sexta-feira, agosto 26, 2005

Favela trés trés chique


Negro de infância pobre, músico autodidata, poliglota improvisado, supostamente bonito, ator, cantor, compositor, sambista e pop, Seu Jorge é o artista do “tipo exportação” , principalmente para a ala da indústria cultural primeiro-mundista que se diz independente. Ele poderia ser mais do que isso, mas parece estar gostando do seu papel.
Esse primeiro parágrafo extraído do comentário de Luís Fernando Vianna, colunista da Folha de São Paulo, retrata exatamente a atual fase do Seu Jorge: Cidadão do mundo, globalizado, vanguardista, pouco sonoro e mais visual. Aventurando-se cada vez mais na sétima arte (ele atuou em “Cidade de Deus”, “Casa de Areia” e “A vida marinha de Steve Zissou”), Seu Jorge firmou-se como um samba-roqueiro cheio da jinga - principalmente - nos tempos do seu ex grupo “Farofa Carioca”, e de lá pra cá, ao investir na carreira solo, subiu no salto alto e trocou o suingue brasileiro pela atmosfera Francesa .
Em “Cru”, seu novo cd, ele deixa clara a sua mudança. E não é porque ele canta em italiano ou em inglês e regrava “Chatterton” do francês Serge Gainsbourg. Não! É porque o samba ficou fino demais, seco demais, raro demais, cru demais. Segundo o próprio release do álbum, Seu Jorge não tem mais tempo para se prender a fronteiras : “Em um período de descanso entre trabalhos no Brasil e em Hollywood, Jorge foi à França recarregar suas baterias e gravou seu novo álbum”.
Foi coisa rápida, voz e violão – claro a mistura desses elementos são suficientes para encher as pistas dos bailes - lembram-se do hit “Carolina”?!?! Pois bem, ele entrou no estúdio praticamente sozinho e gravou versões acústicas e desplugadas de seus sucessos. Até ai tudo bem,mas...quais são os sucessos? Hummm...deixe me ver...ahn, nenhum! Nem Carolina, nem Mangueira, nem nada...só Mania de Peitão (com um discurso bacana no início mas que termina como critica corpotamental no final...bobagem!), ah tem a nova TIVE RAZÃO com clipe na MTV e tudo mais.
Mas caro leitor, francamente o brilho de Seu Jorge perdeu-se no trajeto Paris-Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-Paris. Não que o cd seja um fracasso, negativo! Tem grandes sacadas, mas Seu Jorge deve ter se fascinado tanto com o próprio sucesso internacional, que esvaziou assim a sua força musical.
Afinal ela existe, e foi por causa dela que Seu Jorge fez o sucesso que fez. Neste novo cd destaco, sem sombra de dúvidas, a regravação de SÃO GONÇA (fucking song!) e a interpretação da tristinha “Bola de Meia”, sem esquecer do samba de Noca da Portela: "Eu sou Favela".
É claro, Seu Jorge é favela mesmo, deve ter sido por isso que o cd foi produzido pelo Gringo da Parada, fundador do bar e restaurante Favela Chic, de Paris. Mas seu último trabalho deixou claro que Seu Jorge virou favela chique "demais", virou cantor-ator "demais", ficou tão “cru demais", que fica difícil de digerir. ::: Nenhuma maravilha :::

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