sexta-feira, junho 14, 2013

Por um Brasil com mais vinagre

Foto: Daniel Marenco
Eu sou contra os vidros quebrados. Mas a favor das ruas tomadas. Não tolero patrimônio pichado. Mas  gosto muito dos criativos cartazes nas manifestações. Vejo a o quebra-quebra com desdém, mas a voz em uníssono do povo, isso vejo como um novo hino nacional. Gracioso e encorajador. "Sem violência, sem violência" - e isso não sai da minha cabeça. 
Fico pensando cá com meus botões: ainda bem que começamos a reagir. Me chateava essa inércia que nos toma o corpo e a mente todos os dias. Precisamos sim, sair para as ruas. Elas são de fato a nossa arquibancada, no dito país do futebol. E isso, esse rótulo cretino, é o que mais me envergonha. Não tenho nada contra o futebol. Gosto muito dele. Acho importante a prática esportiva e vejo como lazer e diversão para os que torcem. Mas exportar um país como "o do futebol" me irrita. E não é de agora. Poderíamos ser o país das descobertas científicas, o país do rocknroll, o país da natureza, da floresta mais linda do mundo, da literatura, da medicina, da liberdade, das artes plásticas, ou simplesmente sermos o "país sem corrupção". E é aí que entra essa massa que começou - em Porto Alegre - a tomar as ruas. E que agora, se espalha. E tem que se espalhar, espalhar, espalhar e espalhar ainda mais. 
Marchas pela maconha, das vadias, do orgulho gay sempre estão lotadas. E agora nossa marcha também toma proporções. E não, ela não é apenas por 0,20 centavos. Não. Essa marcha, é de quem cansou de pagar imposto e não ter retorno. É de pagar pelos maus serviços e saber que parte dos tributos vão financiar a corrupção. São tantas obras acontecendo, e nenhum hospital cresce aos nossos olhos. Ao contrário. São estádios, avenidas, viadutos, árvores podadas, a cidade se desenvolve (que bom)! E falta exatamente um ano para ficar perfeita aos olhos do mundo. Mas e essas notas fiscais com muitos e muitos zeros que pagam as obras, quem as vê? Onde está a transparência da Copa? Será que em 5 anos vamos descobrir um esquema de corrupção que aconteceu em 2012/2013 nas capitais que seriam sede dos jogos?! Será que os jornais vão estampar o novo valerioduto? Teremos mensaleiros?! Cuecas e calcinhas cheios de dinheiro do gramado estilo Fifa superfaturado?!
Sinceramente, não sei. E quero que isso não aconteça.
Mas nos últimos anos essa mesma população e essa juventude que saiu para as ruas acompanhou tanto escândalo que finalmente começou a dizer: BASTA! Não quero pagar mais por um serviço ruim. Não quero empresas lucrando e inflacionando tudo anualmente, sendo que meu salário não muda nada em um ano.
Estamos chegando no nosso limite. E isso é bom. 
Mas o Estado, que se diz democrático, não gostou disso.
Vide o episódio de São Paulo. A imprensa foi atacada com balas de borracha. Bem nos olhos de quem registra tudo. Quem estava trabalhando, foi agredido. Spray de pimenta. Um click. E o ato lembrava os duros tempos da ditadura. Jornalistas presos. Por tentar evitar os efeitos do gás lacrimogêneo. "Abre a mochila, abre a mochila". 
Ficamos com medo? Que nada! 
Pois que a polícia saiba que nós não escrevemos com as mãos, com os olhos ou a boca. Ledo engano.  Daqui para frente, teremos, queremos e noticiaremos um Brasil com mais vinagre. Em bolsas, mochilas e afins.  
Foto: Internet/2013

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