Ela me ensinou a ser forte, curiosa e independente. Vai ver por isso ela tenha ido embora tão cedo. Para testar na prática o que me ensinou. Suportei no osso a derrota da vida frente a uma doença terminal. E vivo me equilibrando na corda bamba da saudade para não cair. Sou forte. Vi e vivi nas ruas as histórias mais tristes e bonitas que podiam ser contadas. Sou curiosa. Me viro e pago a minha vida tanto outdoor quando no melhor indoor do mundo...a minha casa linda, cheia de quadros e uma cama magnética. Sou independente. Foram só 26 anos. Lado a lado. Numa convivência com todos os traquejos de uma família normal...brigas, amor, afeto, revolta.
Teimosa. Leal. Vaidosa. Amorosa. Tempestuosa. Fiel. Sociável. Bonita. Boa de briga. Minha Mãe.
Ela sempre aparentou ser mais nova do que a idade da certidão apontava. Não tinha rugas. Coisa de família. Todos os parentes com esse DNA de Bagé vieram abençoados com o gene do formol. Era só uma linha de expressão na testa. Marca da mulher sisuda que aos 60 parecia ter 50. Mas não era isso que me fazia ficar encantada por ela. Não. Era o jeito de prender o cabelo. Aquele rabo de cavalo que mantinha os fios em perfeição sem o uso de qualquer gel. Era o batom vermelho. Vermelho paixão e mais nada de maquiagem. Para ela lábios pintados já bastavam. A vaidade até para dormir. Lembro das camisolas, pijamas jamais, não são nada femininos, ela dizia. As pérolas em dias de festa. O cuidado com a pele. Ela passava horas se besuntando de cremes. Os anéis de prata e ouro. Lindos em dedos finos. De quem era bailarina mas poderia muito bem tocar piano. A palma da mão mais lisinha e macia que já toquei. Dava prazer tocar nas mãos dela. Eram suaves, delicadas. E ela tinha ainda aquele perfume. Um perfume de pele. Um aroma próprio. Doce, achocolatado. Quando ela saia do prédio, todos sabiam que ela havia passado pelo corredor. Ela tinha esse cheiro só dela. Não era um simples cheirinho de mãe. Não era um perfume importado.Mas era algo que ela trazia. Era o cheiro do amor. Daqueles que elas chamam incondicional.
E que hoje, no quarto dia das mães sem ela, faz uma falta tremenda.
Respiro. Inspiro. E o que me resta é lembrar.
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