"As
vozes estridentes de um milhão de gerações silenciadas no tumulto, no vazio
ressonante do oceano, interminável no tempo. Sim, o mar, sempre ali esperando,
embora nunca pensemos nele em nossas cidades, mesmo que ele possa estar
marulhando junto a elas, mas em nosso sangue há algo do mar que ainda nos evoca
numa felicidade escondida quando o vemos e o ouvimos, na memória de ainda
estarmos imersos nele, como num ventre que nunca mais poderemos retomar.
Flutuando. Bem longe, as aves marinhas grasnavam e chamavam e gritavam, em
grandes alturas. O marulhar da água arrastava todas as coisas para o sonho.
Julian se recostou, de olhos fechados, na cadeira de lona. Ele era como um
falcão, um pássaro marinho, uma ave de rapina, uma águia-pescadora que faz
ninho no mar. Ele deve ter tido ancestrais que se lançaram ao mar, em navios de
guerra portugueses. A cicatriz era um minúsculo ouriço-do-mar".
Lawrence Ferlinghetti, em Amor nos tempos de fúria.
Lawrence Ferlinghetti, em Amor nos tempos de fúria.
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