quinta-feira, maio 02, 2013

Em nosso sangue há algo do mar...

"As vozes estridentes de um milhão de gerações silenciadas no tumulto, no vazio ressonante do oceano, interminável no tempo. Sim, o mar, sempre ali esperando, embora nunca pensemos nele em nossas cidades, mesmo que ele possa estar marulhando junto a elas, mas em nosso sangue há algo do mar que ainda nos evoca numa felicidade escondida quando o vemos e o ouvimos, na memória de ainda estarmos imersos nele, como num ventre que nunca mais poderemos retomar. Flutuando. Bem longe, as aves marinhas grasnavam e chamavam e gritavam, em grandes alturas. O marulhar da água arrastava todas as coisas para o sonho. Julian se recostou, de olhos fechados, na cadeira de lona. Ele era como um falcão, um pássaro marinho, uma ave de rapina, uma águia-pescadora que faz ninho no mar. Ele deve ter tido ancestrais que se lançaram ao mar, em navios de guerra portugueses. A cicatriz era um minúsculo ouriço-do-mar". 

Lawrence Ferlinghetti, em Amor nos tempos de fúria.

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