quarta-feira, março 27, 2013

Hoje é dia de falar do trabalho numa sala de aula...


Dois textos que exemplificam bem como e qual é o papel do jornalista e das empresas de comunicação em meio a uma tragédia.  Tive - por conta do trabalho - que conviver e retratar por 20 dias as dores e a tristeza de Santa Maria. 

RESCALDOS DE UMA TRAGÉDIA

Um mês após o incêndio, o Observatório da Imprensa (26/02) exibido pela TV Brasil relembrou os momentos mais marcantes dessa cobertura pela ótica da imprensa regional. (...) Antes do debate no estúdio, em editorial, Alberto Dines destacou o caráter complementar das mídias nacional e regional: “A grande imprensa não existe solta no espaço, seus atributos dependem dos atributos do espírito cidadão que circula em sistemas de alto-falantes, rádios e tevês comunitárias, jornais de bairro, semanários e diários regionais. Quem sofre o primeiro impacto é o jornalista local, sua sensibilidade e discernimento são essenciais, seu espanto ou sua dor são decisivos”. (...) Enquanto a imprensa local focava na prestação de serviço, a mídia nacional tentava encontrar responsáveis pelo incêndio. “Qual era a grande pergunta das emissoras de grande expressão da mídia nacional? Quem são os culpados. Qual era nossa grande pergunta? Quem são as vítimas. Nossa preocupação era com a informação”, sublinhou Vicente Paulo Bisogno, gerente de programação da Rádio Imembuí. Viviane Borelli, coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ressaltou que a imprensa nacional trabalha num ritmo diferente da imprensa regional: “Numa das entrevistas coletivas com o delegado responsável pelo caso, por exemplo, um jornal de circulação nacional queria saber ‘mas já temos um culpado?’, e o delegado dizia ‘não, até agora a gente não está investigando, a gente está tentando colocar a cidade em ordem diante disso que aconteceu’”.(...) Nilson Vargas explicou que Zero Hora e a imprensa de Porto Alegre estão em uma posição intermediária entre a mídia local e a nacional. “A nós cabe um acompanhamento muito forte da investigação e cabe ainda uma postura de profundo respeito, silêncio inclusive, em relação à dor das famílias, que é muito grande”, disse o jornalista. Vargas ressaltou que este tipo de cobertura é bastante complexa e permeada por “tentáculos” tanto para a pequena quanto para a grande imprensa. “A gente tem que ser psicólogo, jornalista, especialista em segurança de edificações e incêndios, acompanhar perícias policiais com um cuidado diferenciado”, afirmou. Fonte: (ADAPTADO) Observatório da Imprensa – 28.02.2013.

A TRAGÉDIA BEM DE PERTO, por Alberto Dines #editorial do Observatório da
Imprensa na TV.// 

Exato um mês depois da catástrofe de Santa Maria, que tirou a vida de 239 jovens brasileiros, o Observatório da Imprensa foi à cidade gaúcha para trazer uma história que a grande imprensa não tem condições de relatar, não é o seu papel. Há dois anos vivemos a mesma situação em proporções muito maiores na região serrana fluminense, quando cerca de mil pessoas morreram afogadas ou soterradas por uma tromba d’agua. Nestas duas tragédias encontramos uma personagem ignorada ou esquecida, porém essencial para a própria sobrevivência da grande imprensa nacional. Fomos à devastada Serra Fluminense e agora à enlutada Santa Maria para buscar ecos da dor e encontramos a imprensa local, a chamada pequena imprensa, na realidade a grande pequena imprensa, infatigável colmeia que produz informações, emoções, produz sobretudo solidariedade. A grande imprensa não existe solta no espaço, seus atributos dependem dos atributos do espírito cidadão que circula em sistemas de alto-falantes, rádios e tevês comunitárias, jornais de bairro, semanários e diários regionais. Quem sofre o primeiro impacto é o jornalista local. Sua sensibilidade e discernimento são essenciais. Seu espanto ou sua dor são decisivos. As catástrofes de Santa Maria, como antes a da Serra Fluminense, mostram que o sistema midiático é imperiosamente pluralista, integrado. O interesse do leitor distante vai numa direção, a palpitação do vizinho vai em outra. Juntos compõem os caminhos da verdade. Separados fazem apenas meia verdade. O projeto para uma grande pequena imprensa faz parte da história deste Observatório. Oxalá possamos desenvolvê-lo em circunstâncias diferentes – com suor, sim, porém sem sangue ou lágrimas.
Profissionais que conviveram com essa tragédia desde a madrugada de 27 de janeiro, ficarão
para sempre com ela. Fonte: Observatório da Imprensa – 26.02.2013.


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