Jorge Castañeda palestrou terça-feira (17) em Porto Alegre, no evento chamado Fronteiras do Pensamento (que a meu ver deveria ser “Sem Fronteiras para o Pensamento”), mas enfim, o sociólogo, historiador e principalmente grande analista e escritor (sim, é dele a melhor biografia sobre a vida do Che) fez, segundo os participantes, a melhor palestra de todas que já ocorreram.
Sem petulância ou a irrefreável mania de filósofos e pensadores de acreditarem que são os “donos da verdade”, o mexicano Castañeda, aos 54 anos, apresentou e argumentou aspectos tão visíveis aos nossos olhos, mas que, por omissão ou relapso, deixamos escapar.
Posso ser suspeita de falar, pois admiro o trabalho e, principalmente, a linguagem de Castañeda.
Ele iniciou seu painel relatando um pouco das guerras civis da Espanha e do México. Logo, entrou no tema quente da noite e que todos queriam ouvir: política.
Falou de aspectos políticos da América Latina e Central. Da proximidade com os países, e do poder que apenas as URNAS garantem aos eleitos. “A consolidação do poder político se conquista através das urnas”, salienta. O tema de sua palestra: “A democracia na América Latina” foi muito bem explorado. Jorge avaliou que, o poder de escolha, tem seus prós e contras, “Temos leis, tribunais, mas isso não quer dizer que tenhamos justiça.” O desapontamento com que muitas nações enxergam a democracia seria resultado de um equívoco conceitual. Além é claro ,de trazer desencantos reais, “a democracia não serve e não resolve a pobreza”, disse.
Ao tratar da democracia como a única saída, mesmo sendo deficitária e muitas vezes arbitrária, comprada ou por interesse, ela é o único regime que possibilita que a sociedade participe, opine, decida.
Sua segunda temática abrangeu a economia da América Latina. Citou o Brasil como exemplo há quase 16 anos - isso se os próximos 3 e meio do Lula derem certo (?) - , e que os números, juntos com as taxas e impostos crescem , mas que, numa análise real, a pobreza e o câmbio, estão diminuindo.
O ápice, sem sombra de dúvida, foi sobre a ESQUERDA aqui na América do Sul. Dividiu-a em duas. A primeira, reformista, democrática, globalizada, moderna, com origem nos velhos partidos socialistas dos anos 60, já a segunda, autoritária, populista, idealista, é filha do velho populismo latino-americano, do peronismo, coisa e tal.
A crítica de Castañeda para a esquerda moderna, é que dela sobrou-se pouco, ela perdeu sua ideologia, está mais próxima de buscar acordos comerciais com os Estados Unidos do que outra coisa.
Com o passar dos anos, a combinação de pobreza, desigualdade e eleições levou a algo previsível para o cientista político: a vitória de partidos políticos de esquerda. Nos últimos anos, Chile, Venezuela, Brasil, Bolívia, Argentina, Equador e Nicarágua elegeram líderes esquerdistas.
Para ele isso não é ruim, é um bom sinal. Mas disse: “não está bom, é preciso ganharmos uma batalha das idéias, aí sim, poderemos presentear-nos com a consolidação da democracia”.
Enfim, num clima descontraído, cheio de tiradas bem-humoradas, Casteñeda estava a vontade frente aos público. Respondeu as perguntas da platéia sobre a relação México-Estados Unidos, imigração, terrorismo e jornalismo.
Para os que esperavam um comunista de cara feia ou até mesmo um sociólogo-filósofo-historiador triste pelo estado das Américas Central e Latina, enganou-se. Tanto que, o pós-night do moço – diferente dos outros participantes do evento – acabou sendo no Barraco, tradicional churrascaria da capital gaúcha.