Dos cadernos de Laura
Há dois anos Laura estava mais ou menos feliz num relacionamento mais ou menos sólido com um homem mais ou menos legal. Ele até era um cara agradável e às vezes carinhoso, o problema é que não fazia o mundo de Laura balançar. E para piorar eles não tinham nada em comum. Foi numa viagem de final de semana para o Litoral, que sentada na beira da praia, ela compreendeu num estalo que mais ou menos não era o suficiente. Decidiu que ficaria mil vezes melhor solteira do que gastando o precioso tempo com um cara que não era, no mínimo, o perfeito.
Laura é uma professora de francês, prestes a completar 28 anos, independente, arrojada e que trata das questões do coração com muita cautela. Depois de anos envolvida com homens errados – galinhas demais, tarados demais, bobinhos demais, burrinhos demais, incompetentes demais, covardes demais, enfim... todos inúteis demais – Laura desistiu do amor.
Sentada na mesinha da varanda, corrigindo os erros das provas de gramática francesa, ela escreveu o perfil do homem ideal: ele deveria ser carinhoso, sociável, corajoso, cabeça aberta, trabalhador, divertido, inteligente, e acima de tudo deveria admirar as boas e pequenas coisas da vida. Mas não se engane, uma mulher como Laura não queria um daqueles filósofos gregos, não, não, não – até por que esses deveriam ser péssimos de cama – mas sim alguém que pelo menos entendesse e gostasse da vida pelo simples fato de olhar para o céu e se deliciar com as estrelas. Enfim, Laura percebeu que a enumeração das "qualidades" foi grande, o que gerou na utópica professora o pensamento de: "Ops! Porque estou perdendo meu tempo com tamanha bobagem!!!"
Guardou o papel na gaveta do criado-mudo e saiu para mais uma das inúmeras paradas que fazia durante a semana ao shopping center e cafeterias. Meses depois, num jantar para lá de descontraído com os ex-colegas da faculdade, Laura descobriu que estava sentada ao lado de ninguém menos que o seu sonho de consumo. Sim! Laura checou mentalmente cada item daquela listinha esquecida na gaveta e quase não conseguiu balbuciar o número do telefone para o jornalista interessantíssimo que estava ali. Um sujeito com ares de guerreiro esguio, de olhos notívagos, sorriso alvo e pele clara, solteiro, com carro, casa, gentil, agradável, sociável, e culto, sim, o correspondente internacional e ideal de Laura estava ali bem ao seu ladinho. Sorte? Ironia do destino? Brincadeira de mau gosto? Não sei!
Olhando para trás, a heroína das obras de Victor Hugo compreendeu que não teve apenas sorte. A combinação de uma série de condições favoráveis prevaleceram. Ela sabia exatamente o que queria num homem e tinha amadurecido o bastante para entender que não desejava um bonequinho de pano para mostrar às amigas e muito menos para passear na cidade. Principalmente, ela não estava desesperada para encontrar alguém. Laura não queria uma vidinha mais ou menos, ela estava na busca de algo novo, ou melhor, maravilhoso, com ou sem homem por perto.
As ruas estão cheias de imitações baratas de bons sujeitos. Mas nada que um pouco de distanciamento, análise e introspecção não dêem um jeito. O caso de Laura não é raro, existe em qualquer esquina de qualquer lugar. O que a professorinha apenas queria era a felicidade plena. Um sentimento nobre, com valores sinceros e a confiança mútua entre seres da mesma espécie. Tomara que ela tenha realmente encontrado o que procurava. Pois para Laura, a era do amor leviano terminava ali.
2 comentários:
Lembro desse texto, fui o revisor dele. E lembro também que era um pouco diferente...
Mas gostei bastante dessa versão. Bem escrita e o final ficou legal.
Beijos
Meu revisor preferido...tu tá nos agradecimentos na minha Mono viu..agora tu vai te achar pro resto da vida..hihihi..bjins
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