Corro desenfreadamente. Todo dia. Celulares não param. Odeio a solidão das refeições sem família. E família pra mim são dois. Duas casas não são lares. São viagens. Minhas crianças crescem rápido e como são lindas. Até nisso, na infância, beleza é fundamental. Já diria o velho Vinicius. Ah o meu não é poeta e sim iconoclasta. Trabalho. Tenho aventuras. Histórias. Equipe. Mas é quando estou sozinha, ou lado de outras pessoas da família que acontecem aqueles momentos de rubor.
Meio dia, sol tinindo na cara. Corro, as usual. Campo de visão reduzido e mesmo tendo olhos de jaboticaba o sol franze a minha testa como se houvessem límpidas córneas azuis acima deste nariz. Ela devia ter uns 75. 80 anos no máximo. Me abraçou. Parabéns, minha filha. Parabéns. Aeroporto vazio. Domingo. Aperto no peito. Um carrinho se aproxima - pára - grita a mulher. Fico até assustada. Beijos e um abraço apertado. Daqueles carinhosos (e calorosos) mesmo. Fiquei meio sem ter o que dizer e ela saiu dizendo: lembra de mim? 5ª série? - Ah, como é bom encontrar uma professora que foi símbolo de uma educação feliz. Te vejo na TV, mas quero aqueles cabelos crespos de volta, guria. Eu também. E como.
Supermercado. Páscoa. Ovos sob nossas cabeças. Meu pai surtando com o povo e eu só queria fazer compras tranquilas. Deixa eu tirar uma foto contigo - num tom impositivo. Oi?! Te adoro, aos gritos. Mas não sou artista. Sou jornalista. Não interessa. Meu pai enche o peito. Rio. Strike a pose. Centro da cidade, 19h, entro no ônibus. No primeiro banco um vovôzinho. Desses de cabeça toda branca como algodão. Mal olho pro lado e ele diz: te assisto sempre. Aliás, tô indo pra casa agora te ver as oito e meia. Sou teu fã! Continua assim, menina. Os passageiros me olham. Agradeço constrangida. Mas ao sentar no banco eu penso: é de quem a gente menos espera que surgem as pequenas gentilezas do caminho.
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