Conheço a residência da dor.
É num lugar afastado,
Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,
Com umas imensas vigílias, diante do céu.
A dor não tem nome,
Não se chama, não atende.
Ela mesma é solidão:
Nada mostra, nada pede, não precisa.
Vem quando quer.
O rosto da dor está voltado sobre um espelho,
Mas não é rosto de corpo,
Nem o seu espelho é do mundo.
Conheço pessoalmente a dor.
A sua residência , longe,
em caminhos inesperados.
Às vezes sento-me em sua porta, na sombra das suas árvores.
E ouço dizer:
"Quem visse, como vês, a dor, já não sofria".
E olho para ela, imensamente.
Conheço há muito tempo a dor.
Conheço-a de perto.
Pessoalmente.
26 de agosto de 1954 - Cecília Meireles
2 comentários:
triste. da incerteza, a única garantia é a mudança. ela vem lenta, lenta, mas chega. requer paciência e preparação. quem te ama nunca está distante.
É por isso que tenho forças!
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