sexta-feira, julho 05, 2013

10.950 dias com ela

Não, não vou reclamar. Isso era uma certeza. Pelo menos no curso natural do sistema biológico, caso ele não fosse interrompido. Tinha que chegar. E chegou. Mas antes de falar "dela" - a minha nova idade -  é preciso falar de algo mais importante: "ela".
Ela me deu tombos. E muitos. E considero que eles vieram antes da hora. Mas a doença, a tristeza, o desamor não marcam data para chegar. E a cada queda eu percebi que ficava mais forte. "Aquilo que não me mata, me fortalece", já dizia o velho Nietzche. Aprendi a ter força na marra. Aprendi a lutar pelo que queria. Mas a luta não é só nas dificuldades mas sim quando encaramos desafios, novidades, até um relacionamento novo. Lembro que o meu primeiro emprego foi apenas para levantar grana para pagar a carteira de habilitação, aos 18 anos. Coisa que até hoje, não consigo assimilar como um grande feito na vida de uma pessoa. Não me sinto melhor nem pior que os outros por não ter determinada coordenação ou aptidão para algo na vida. Me falta disciplina. E sim, tem vezes que me envergonho de ter desistido dessa luta (aliás, foi a única em que fui entreguista). É importante nessa altura do campeonato reconhecer os próprios erros. Autocrítica na medida só nos faz crescer. Coragem menina, um dia você chega lá. 
Mas se não são os carros ou o esporte que me fascinam neste tempo todo, o que me encanta? Ou melhor o que "ela" me trouxe de bom?! Amigos, família, dinheiro, trabalho?! Não. Detalhes. "Ela" me trouxe os mais belos detalhes que uma garota poderia ter.
Música com ruído da agulha. Desde cedo minha casa era embalada por LP's no toca discos. A família reunida para o almoço. A espera angustiante pelo papai. O beijinho de boa noite e a mão de seda da mamãe. A hora do conto, as brincadeiras de lógica e memória, o riso de criança debaixo dos lençóis dos pais. A birra para não comer cebola. A falta de apetite. O quadro negro no quarto. A mão cheia de giz. O duro e traumático refluxo urinário que me deixou com apenas 1/2 do rim esquerdo. Pelo menos esse danado ainda funciona. Ufá.
Tudo se encaixava de forma perfeita no transcorrer das horas. A menina cresce. As Spice Girls. Os Beatles. O nome por causa do Elvis. E reparem: gostava de estudar. Ahhh quantas provas gabaritadas em história e literatura. O sonho de ser arqueóloga, pediatra ou historiadora. Tudo que a gente quer ser quando crescer é crescer. E de repente, lá estava eu, crescida. Entre a faculdade de fisioterapia ou de jornalismo. Mais uma vez os detalhes: A guria de voz grave, risonha e despojada que era líder de turma e andava de tênis adidas ouvindo Beastie Boys no walkmann organizava festas no colégio e até escreveu fanzines e jornais do centro acadêmico. Talvez os últimos anos na escola tenham definido meu destino profissional.  E a decisão foi ali, num 30 de julho qualquer enquanto chorava no colo da mãe. 
Desde então pensei que ser jornalista era ter o poder e a capacidade de mudar o mundo. Era um jeito de estar perto da História. E contar ela todos os dias. A visão romancista ainda mora no meu íntimo. Mas na prática, descobri que ser repórter é ser (mais uma vez) forte. Eu precisava ter a habilidade e o jogo de cintura para aguentar os prós e contras da profissão. Foi na rua. Nas chuvas, nos tiroteios, alagamentos, incêndios, descobertas cientificas, tragédias, carnavais. No dia a dia da reportagem que me tornei a profissional que sou. E o que sou?!  Sou ética, justa e verdadeira. 
Se me perguntarem: "o que a tua profissão te trouxe"? - Eu direi que a Verdade. E a descoberta de que "cada minuto pode ser o último".  
E foi e é por causa disso que valorizo mais e mais o Cosmos e o AMOR. O sentimento que não existe se não for real.. Não se encontra nas prateleiras e nem a ciência explica. Apenas sentimos. Simples assim. Eu acredito que o amor é detalhe. Jazz, arte, boa comida, admiração, livros, auroras boreais, banho de mar, astronomia, festas, cumplicidade, museus, cheiro de mato, gols, dança, velas, poesia, roupa limpa, cartas, aroma de infância, devoção, lugares novos, respeito e gente que me fascina. Isso é o amor. E se eu contar quem me fascina, fica fácil: amor é meu pai, minha mãe, meu Preto, minha família, meus afilhados e alguns bons e poucos amigos e amigas que conquistei pelo caminho.
Isso é amor. E sei bem porque cheguei ao 30 anos com tudo que tive direito: amando e sendo amada! Então, seus moleques, sejam bem vindos, porque bem vividos vocês já foram. Conclui: a idade - realmente - só melhora a gente. 
Afinal, graças a cada célula morta é que tenho "ela": minha apaixonante vida! E desde 5 de julho de 1983 dividimos 10 mil 950 dias de grandes histórias, algumas dores e muito, muito AMOR!

Um comentário:

Tuca Padilha disse...

Lindo texto, linda foto, lindos amiguuuuuus <3