Nada consegue despertar a minha comoção. Nem mesmo as tragédias. Os desastres. A natureza voraz que aniquila o homem com qualquer vento, calor ou frio. As pessoas antigamente tinham o dom de me comover com um olhar, uma palavra, uma pausa que beirava a licença poética. Talvez a doença, ela consegue me comover, não - não, ela me deixa é triste. Aquela sensação de arrebatamento do peito, de uma crença estúpida e crescente em outro ser - algo que arrepiava e movia um sentimento de "se por no mesmo lugar"- foi sendo extinto, podado com o passar dos anos. Existem os seres óbvios que se comovem - por exemplo - com futebol ou grandes manchetes sensacionalistas, pra mim tudo paixões fúteis. Nada disso me move, ou melhor, comove. Quero muito acreditar nas pessoas, na sinceridade delas, na bravura de seus gestos, na honestidade de seus atos, sem goles de álcool, sem mesas de bar, sem esconder cartas na manga, sem deixar rastros de pretensões alheias. Sem mostrar que sua dor é maior que a outra. Não nasci pra ser comovida, nem mesmo para comover. Nasci para emocionar e para ser emocionada. Talvez o melhor sentimento para dias em que nada me toque, seja o da saudade. E nem precisa ser a força. Não, ela de repente - bate e fica. Ela me mata. Sim, aquela saudade suicida, de quem quer morrer para chegar mais próximo do que (ou de quem) se foi, ou aquela vontade de fugir para estar perto de quem está longe. Saudade se expande, invade, arrebata, rasga o coração. Ela sim comove nos detalhes, na lembrança de um sinal do corpo, numa grafia anotada em um papel, num cheiro de café passado, num mimo íntimo e que não existe mais. Isso sim comove. Mas como sobreviver ao terror dos pensamentos, as imagens que ganham proporções tridimensionais em nossas mentes? Não é certo apagá-las, e aqui eu caio numa contradição proposital: eu não me comovo. Talvez o céu azul celeste e as estrelas ainda consigam me tocar profundamente, mas engraçado, esses dois itens estão sempre que possível lá no alto, intocáveis, coroando minha cabeça. E ai me perguntam: e o resto do mundo, o que vem abaixo do firmamento? Bom, o resto eu deixo pra vocês se comoverem. Porque tirando o amor, meus amigos e a beleza da Arte não vejo outras coisas capazes de alimentar a vida humana.
Um comentário:
L'amour, l'amour, vive l'amour!
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