Ele e ela. Podia ser João e Maria. Eles se amam, mas não é o suficiente.
Amar não é suficiente. Amar complica.
Amar exige mais do que dar e receber.
Há um tempo em que há o tempo, em que duvidamos do que é mais autêntico, não aceitamos a vida com facilidade, não aceitamos que dar certo pode ser muito errado.
Vi gente que se deprimiu de felicidade. Ou por achar que eram perfeitos demais um pro outro.
Eles se separaram por amor. Estranho isso.
Talvez tenha sido a falta de escadas para subir. Sentiram falta de contar os degraus.
Talvez tenha sido o que nunca foi dito, porque um dos dois pensava que não era necessário.
Quando se ama a gente acredita que não é mais necessário dizer palavras, mas é tão necessário quanto não dizê-las.
Hoje apartados, tentam a discrição. As confidências são só deles.
Pureza dos dois, que falam a mesma coisa de um jeito diferente e não se perguntam para não coinciderem a velha resposta.
Os dois querem provar um ao outro quem é mais sensível, e de tanta sensibilidade eles não se permitem sentir.
A treva não é trégua, o descanso não é paz.
Ela, que poderia ser Maria tem insônia.
Ela é afeiçoada aos detalhes e se antecipa antes de sofrer mais.
Ele, que poderia ser João sofre adiantado para não se antecipar.
Ele é assim, corre o mundo e depois arruma a sala.
Ela não, não espera o tempo de arrumar a casa, arruma-a enquanto o mundo corre.
Maria não quer esperar. João espera para querer.
Eles se amam. E acreditam que nada poderá separá-los, a não ser eles e seu excesso de amor.
Eles se amam a ponto de desfrutarem do direito de criar distância.
É estranho isso. O cansaço não usa disfarces; o ciúme não escuta desculpas; prevenir não é se defender; enlouquecer é atrasar o desencontro; regressar é não ter saído.
Maria nunca vai ser ex-mulher de João.
João nunca vai ser ex-marido de Maria.
Eles não podem ser o que desconhecem, nem deixar de ser o que foram.
Os dois se preservam, se protegem. Como se o segredo fosse algo que esqueceram, e nenhum conta que esqueceu.
Dividiram a vida para perceber depois que a vida fica dividida.
Ela e Ele. Poderia ser João e Maria. Os nomes não mudam o que foi doado e amado.
Mesmo a árvore mais desatenta cuida da estrada.
5 comentários:
Texto perfeito. As palavras são jogadas ao vento quando se falta o essencial, o cuidado.
Esses dias ia postar essa música:
"Ela não pensou, não acreditou
Foi ciúme sim
E ele se calou, não quis magoar
Seu coração
A vida seguiu, o tempo passou
E era tão normal
E ele prometeu, ela perdoou
Mas nada foi igual
E ela foi embora
Ela não vai voltar
Ele não acreditou no fim
E o amor foi se apagando assim
Mas ele não chora
E diz: o tempo vai curar
Ela não acreditou no fim
E o amor foi se apagando assim (...)"
Exatamente!!!
Se a árvore mais desatenta cuida da estrada, como alguém vai deixar de cuidar de ti?
Inacreditável. Mas oh, tu tem sempre gente que te ama, e tu nem percebe isso. Mesmo de longe te cuido. E faz tempo.
Muito lindinho! Adoro histórias dramáticas de finais felizes. Sabe do que mais? Vai dar tudo certo, e com a vantagem de que durante o percurso se amadurece.
E vcs já viram como ela tá muito mais linda?! Mesmo no olho do furacão?
Priscilla tu é demais. única e essencial.
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