terça-feira, abril 10, 2012

Descemos quietos

Despretensioso.
Curto.
Inexpressivo.
É isso. Isso que posso dizer dele.
Tudo aconteceu numa fração de segundos.
Foi de repente.
Depois de 28 anos e 8 meses.
Ele tinha que aparecer.
De relance.
Quebrando toda a minha história.
Talvez mudando o rumo da minha vida.
Era como uma afronta, uma humilhação.
A primeira vez?!
A do primeiro sentimento de raiva.
Que seria uma mistura de susto com perplexidade.
Foi quase um pesadelo.
Nos cruzamos no elevador.
Frente a frente.
Olhos grudados no espelho.
Não acreditando que aquilo estava acontecendo.
Ele e eu.
Eu e ele.
Não estávamos sozinhos.
Tentamos nos controlar.
Eu mais ainda.
Essa fúria espartana louca para se tornar realidade.
Mãos firmes.
Térreo.
Descemos quietos.
Ainda em choque.
Algumas horas se passaram.
Tentei esquecer do assunto.
Voltei. Pensei que nunca mais o veria.
Ledo engano.
O raio caiu duas vezes no mesmo lugar.
Eu entrei no elevador.
Ele comigo.
Mais uma vez.
Ele e eu.
Eu e ele.
Decidi tomar uma atitude.
Aproximei meu rosto ao máximo.
Fitei o espelho.
Não acreditando no que via.
Forcei a retina.
Subi as mãos.
Como se estivesse sendo assaltada.
A surpresa me embasbacou na primeira vez.
Mas naquele momento foi diferente.
Tomei coragem.
Movimentos bruscos.
Um busca certeira.
Olhos como se fossem lupas.
Dedos rápidos e uma confirmação..
Aquilo era ele.
Ele mesmo.
O meu primeiro (e mísero) fio de cabelo branco.

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